Peter Bilak

Peter Bilak não é holandês: nasceu na Eslováquia em 1973, estudou na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França até se estabelecer na Holanda, na cidade The Hague, onde trabalhou em diversos escritórios de design, incluindo o tradicional estúdio Dumbar (criado por Gert Dumbar). Atualmente trabalha por conta própria desenvolvendo projetos editoriais, tipografia e web design.

Ao longo dos últimos anos, projetou diversas fontes para a empresa FontShop International, como FF Eureka, FF Craft, FF Masterpiece, trabalhando ainda na customização de tipografias para projetos de identidade visual. Em 1999 resolveu lançar sua própria foundry, a Typoteque, que funciona ainda como um portal voltado ao estudo da tipografia e do design de comunicação. Junto com Stuart Bailey, Peter Bilak coordena o projeto editorial dot-dot-dot: uma revista especializada em cultura visual, apresentando uma variedade de tópicos relacionados direta ou indiretamente ao design gráfico. Em 2000 foi responsável por organizar e coordenar uma importante exposição na Bienal de Design Gráfico de Brno - República Tcheca, sobre o trabalho de designers holandeses da atualidade. Seus trabalhos já foram apresentados em revistas como Abitare, HOW, I.D., U&lc, Page, Étapes Graphiques e em diversos livros. Complementando sua prática profissional, Peter Bilak orienta projetos na Royal Academy of Art, in The Hague (KABK) e na Art Academy, in Arnheim, além de regularmente ministrar palestra e workshops pelo mundo.

Em 2004, o designer foi convidado pela TPG Post (antiga PTT) a desenvolver uma dupla de selos ordinários nos valores de 39 e 78 centavos de Euro.

Nos selos criados por Peter Bilak, o designer constrói uma representação da Holanda a partir do ponto de vista aéreo, de quem observa o país contemplando o patchwork formado pelos campos cultivados. O selo de 39 centavos retrata os campos cobertos por flores, enquanto o de 78 centavos é uma interpretação dos bosques e prados holandeses. Com muita criatividade, Bilak utiliza o caractere tipográfico como unidade de construção, posicionando cada letra em uma espécie de moldura ou campo individual. Os campos são determinados pela largura dos caracteres, em uma clara referência a tradicional arte da impressão tipográfica - uma homenagem à rica história holandesa nessa área do design gráfico. A fonte utilizada é a Fedra Serif, um projeto de Peter Bilak.


1. representação tipográfica dos campos holandeses, selo postal 2004.

2. Fonte Fedra Serif, Typoteque 2003.

3. revista dot-dot-dot # 1.

4. Fonte FF Masterpiece, FontShop 1996.

Dick Bruna

Dick Bruna é escritor, artista e designer gráfico holandês, nascido em Utrecht em 1927. Sua mais famosa criação é a personagem Miffy, uma coelhinha desenhada com linhas simples e cores vivas, conhecida por crianças de diversos países. A personagem foi criada em 1955 para as histórias contadas a seu filho Sierk, na época com um ano de idade, e originalmente chamava-se Nijntje: pronúncia infantil da palavra ‘Konijntje’ que quer dizer ‘pequeno coelho’. Miffy se transformou em um projeto editorial de sucesso e teve sua família ampliada com vários outros personagens: um cachorro, um porquinho, irmãos-urso (entre outros) e uma criança desenhada no mesmo estilo: a pequena Lottie, que pode ser encontrada em diversas séries de selos da Holanda e do Japão. Além dessa tradicional série de livros infantis, Dick Bruna trabalhou projetando e ilustrando capas de livros para conhecidos autores holandeses.

1. a coelhinha Miffy, personagem infantil de Dick Bruna.

2. Lottie.

3. bloco de Dick Bruna, 2005.

4. selos postais, 1995.

5. selos de Dick Bruna para o Japão.

6. projetos de Dick Bruna para capas de livro.

Piet Zwart

No início do século XX, a Holanda, junto com a Alemanha e a Rússia, ocupou a vanguarda na evolução do design gráfico internacional. A mais original contribuição holandesa foi o trabalho de Piet Zwart, fotógrafo, tipógrafo e desenhista industrial. Nascido em Zaandijk em 1885, Zwart começou sua carreira como arquiteto, trabalhando para Jan Wils, membro original do grupo De Stijl e H.P. Berlage, designer da bolsa de valores de Amsterdam. Berlage, reconhecido como mentor de Zwart, era um teórico inflexível: acreditava que ‘a geometria não era apenas útil na criação da forma artística, mas era até mesmo absolutamente necessária’.

Como designer, Piet Zwart ganhou reconhecimento pelos trabalhos realizados para a Nederlandse Kabelfabriek Delft (tradicional fábrica holandesa de cabos) e para a empresa holandesa de correios e telégrafos – Dutch PTT. Trabalhando para a empresa NKF produziu um total de 275 designs – a maioria deles puramente tipográficos.

Por ser arquiteto, as ferramentas e técnicas utilizadas na época em que era projetista deram-lhe um extenso vocabulário geométrico: estava acostumado a usar os esquadros em diversos ângulos, a trabalhar com compassos e projeções em perspectiva. The Typotekt, como ficou conhecido, não aderiu às regras da tipografia tradicional e acabou se destacando como um dos pioneiros da moderna tipografia, ao usar os princípios básicos do construtivismo e do movimento De Stijl em seu trabalho profissional. Sua assinatura profissional era constituída pela letra P e um quadrado preto: em holandês ‘zwart’ quer dizer preto.

Seus projetos são identificados por apresentarem invariavelmente cores primárias, formas geométricas simples, padronagens tipográficas e pelo inovador uso da fotomontagem – técnica aprendida com o amigo El Lissitzki, em 1926. Em 1928, Zwart foi convidado a dirigir o departamento gráfico da Bauhaus, mas acabou dando apenas um curso na escola. Teve grande aproximação com Kurt Schwitters e Paul Schuitema – com este último desenvolveu o jornal quinzenal de vanguarda ‘De 8 em Ophbouw’ (O 8 e a Construção) que se utilizava das mais recentes técnicas gráficas.

Graças a Van Royen, diretor da PTT no início da década de 20 e funcionário da Associação dos Países Baixos para o Ofício e as Artes Industriais (organização que atuava como intermediária entre designers e seus clientes) Piet Zwart foi convidado a desenvolver selos postais para o governo holandês. Apesar de encontrar muita resistência, Royen persistiu em trazer uma nova abordagem ao produto filatélico, tendo como resultado – por um breve período dos anos 30 – peças gráficas concebidas 50 anos a frente do que era produzido no resto do mundo. Já no final da década, sob a iminência de uma ocupação nazista, a PTT assume uma postura mais cautelosa e conservadora – marcando o final de um período de experimentalismo. Durante a ocupação alemã (1940-45) a empresa é obrigada a assumir uma posição colaboracionista: Van Royen é afastado e morre em 1943 em um campo de concentração. Em virtude da iluminada tradição de designs criativos nos serviços públicos, levada adiante pelos discípulos de Zwart, a Holanda manteve sua importância na história do design gráfico internacional.

Trabalhou também como designer de móveis e de interiores, além de ser crítico de arquitetura, numa longa carreira que se estendeu até a década de 60. Piet Zwart morreu aos 92 anos, em 1977. Sobre seus projetos na PTT, afirmou:

“The postage stamp is a document of the times. It does not primarily pose an aesthetic problem and has nothing in common with a painting. The truly authentic postage stamp is one which displays the attributes of the period from which it comes, constitutes a synthesis of its originating idea and which is produced using contemporary technological methods. Any other basis is false and unworthy. Moreover, the stamp in use is part of a larger whole, the postal article, and thereby loses its independence. The conventional format, namely a symmetrical image along a vertical axis (in some cases horizontal), lends the stamp an autonomy which is not its due. Consequently, in my stamps I have adopted a dynamic composition, and have made corresponding use of the photographic and photo-technical reproduction methods so representative of our time. Whether the results are considered beautiful or ugly is of less importance.”

(Piet Zwart, Les timbres-poste des pays-bas de 1929 à 1939: 17 traduzido por David Scott para o livro ‘European Stamp Design – a semiotic approach to designing messages’, London: Academy Editions, 1995.)

1. selos postais, 1931 (70c) e 1933 (80c) - Wilhelmina.

2. selo postal, 1931 - Gouda Church Restoration Fund.

3. o design geométrico de Piet Zwart, década de 20.

4. anúncios para a empresa PTT, 1938.

Oxenaar, the money maker

Robert Deodaat Emile Oxenaar nasceu em Haia (The Hague) em 1931, e formou-se designer pela tradicional escola KABK – The Royal Academy of Art. Aos 76 anos de idade, Ootje como é conhecido, ainda leciona no departamento de design gráfico da Rhode Island School of Design, nos Estados Unidos. Entre 1966 e 1985 trabalhou para o Nederlandsche Bank (Banco Central Holandês) desenvolvendo uma nova série de cédulas para o florim: um trabalho reconhecido internacionalmente pela sua beleza e pela altíssima qualidade técnica.

Por sua determinação em fazer um bom trabalho, ele foi um dos responsáveis pela mudança de mentalidade dentro do então tradicional meio responsável pelas cédulas holandesas, o impressor Joh. Enschedé – empresa particular de Haarlem que vinha produzindo o papel-moeda holandês desde o início do século XIX. Nas cédulas por ele projetadas no final dos anos 60, os rostos dos retratados possuíam um tratamento gráfico diferente de tudo o que havia naquela época em se tratando de dinheiro: eram caricaturas, e não as tradicionais gravuras. Mais tarde, inovou também ao retratar a fauna e a flora, e elementos nacionais nas cédulas de 50, 100 e 250 florins.

Oxenaar é conhecido pelo aspecto lúdico de seu trabalho, tendo inclusive inserido mensagens secretas, imagens escondidas e referências pessoais nos projetos desenvolvidos para o banco central holandês. Com um trabalho de qualidade técnica irretocável, provou que um design funcional de bom gosto não precisa ser sisudo e sem vida. Na década de 80, trabalhou como diretor da empresa PTT (Dutch Postal Telegraph and Telephone) e projetou diversos selos postais ao longo dos últimos 40 anos.

Esse verbete possui enxertos feitos a partir do projeto de graduação de Guilherme Tardin, para Esdi em 2000. As imagens do concurso do Euro foram cedidas pelo mesmo.

1. selo postal, 1968.

2. bloco da mesma série, 1968.

3. anverso da cédula de 25 florins.

4.1 anverso da cédula de 50 florins.

4.2 reverso da cédula de 50 florins.

4.3 detalhe do reverso da cédula de 50 florins.

5. proposta para o concurso do Euro, anverso da cédula de 100.

6. proposta para o concurso do Euro, reverso da cédula de 5.