Piet Zwart
No início do século XX, a Holanda, junto com a Alemanha e a Rússia, ocupou a vanguarda na evolução do design gráfico internacional. A mais original contribuição holandesa foi o trabalho de Piet Zwart, fotógrafo, tipógrafo e desenhista industrial. Nascido em Zaandijk em 1885, Zwart começou sua carreira como arquiteto, trabalhando para Jan Wils, membro original do grupo De Stijl e H.P. Berlage, designer da bolsa de valores de Amsterdam. Berlage, reconhecido como mentor de Zwart, era um teórico inflexível: acreditava que ‘a geometria não era apenas útil na criação da forma artística, mas era até mesmo absolutamente necessária’.
Como designer, Piet Zwart ganhou reconhecimento pelos trabalhos realizados para a Nederlandse Kabelfabriek Delft (tradicional fábrica holandesa de cabos) e para a empresa holandesa de correios e telégrafos – Dutch PTT. Trabalhando para a empresa NKF produziu um total de 275 designs – a maioria deles puramente tipográficos.
Por ser arquiteto, as ferramentas e técnicas utilizadas na época em que era projetista deram-lhe um extenso vocabulário geométrico: estava acostumado a usar os esquadros em diversos ângulos, a trabalhar com compassos e projeções em perspectiva. The Typotekt, como ficou conhecido, não aderiu às regras da tipografia tradicional e acabou se destacando como um dos pioneiros da moderna tipografia, ao usar os princípios básicos do construtivismo e do movimento De Stijl em seu trabalho profissional. Sua assinatura profissional era constituída pela letra P e um quadrado preto: em holandês ‘zwart’ quer dizer preto.
Seus projetos são identificados por apresentarem invariavelmente cores primárias, formas geométricas simples, padronagens tipográficas e pelo inovador uso da fotomontagem – técnica aprendida com o amigo El Lissitzki, em 1926. Em 1928, Zwart foi convidado a dirigir o departamento gráfico da Bauhaus, mas acabou dando apenas um curso na escola. Teve grande aproximação com Kurt Schwitters e Paul Schuitema – com este último desenvolveu o jornal quinzenal de vanguarda ‘De 8 em Ophbouw’ (O 8 e a Construção) que se utilizava das mais recentes técnicas gráficas.
Graças a Van Royen, diretor da PTT no início da década de 20 e funcionário da Associação dos Países Baixos para o Ofício e as Artes Industriais (organização que atuava como intermediária entre designers e seus clientes) Piet Zwart foi convidado a desenvolver selos postais para o governo holandês. Apesar de encontrar muita resistência, Royen persistiu em trazer uma nova abordagem ao produto filatélico, tendo como resultado – por um breve período dos anos 30 – peças gráficas concebidas 50 anos a frente do que era produzido no resto do mundo. Já no final da década, sob a iminência de uma ocupação nazista, a PTT assume uma postura mais cautelosa e conservadora – marcando o final de um período de experimentalismo. Durante a ocupação alemã (1940-45) a empresa é obrigada a assumir uma posição colaboracionista: Van Royen é afastado e morre em 1943 em um campo de concentração. Em virtude da iluminada tradição de designs criativos nos serviços públicos, levada adiante pelos discípulos de Zwart, a Holanda manteve sua importância na história do design gráfico internacional.
Trabalhou também como designer de móveis e de interiores, além de ser crítico de arquitetura, numa longa carreira que se estendeu até a década de 60. Piet Zwart morreu aos 92 anos, em 1977. Sobre seus projetos na PTT, afirmou:
“The postage stamp is a document of the times. It does not primarily pose an aesthetic problem and has nothing in common with a painting. The truly authentic postage stamp is one which displays the attributes of the period from which it comes, constitutes a synthesis of its originating idea and which is produced using contemporary technological methods. Any other basis is false and unworthy. Moreover, the stamp in use is part of a larger whole, the postal article, and thereby loses its independence. The conventional format, namely a symmetrical image along a vertical axis (in some cases horizontal), lends the stamp an autonomy which is not its due. Consequently, in my stamps I have adopted a dynamic composition, and have made corresponding use of the photographic and photo-technical reproduction methods so representative of our time. Whether the results are considered beautiful or ugly is of less importance.”
(Piet Zwart, Les timbres-poste des pays-bas de 1929 à 1939: 17 traduzido por David Scott para o livro ‘European Stamp Design – a semiotic approach to designing messages’, London: Academy Editions, 1995.)